Como uma universidade pública gasta dinheiro

Tem coisa que muita gente deveria saber, mas infelizmente poucas pessoas ficam sabendo. Tem coisas que acontecem em âmbito regional, mas o interesse deveria ser nacional.

Segue um exemplo:

"Já foram gastos R$ 10,502 milhões de recursos públicos estaduais para a instalação em Bauru de um canal de TV universitária pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). A emissora vai ter abrangência para 92 cidades, com equipamentos que possibilitam o sistema de TV digital futuramente. A quantia foi confirmada pela Reitoria da universidade. Os técnicos e jornalistas estão sendo contratados, mas a emissora não entrou no ar. A autorização para o funcionamento em caráter experimental da TV Unesp ainda não foi expedida. A concessão depende de homologação na Câmara dos Deputados e no Senado.

A universidade já importou R$ 6,758 milhões de equipamentos. O prédio da futura sede foi comprado e adaptado para o canal de TV. O imóvel fica no Jardim do Contorno e custou R$ 2,301 milhões. A instituição não quis fazer o investimento no próprio câmpus, onde há área disponível.

A instalação da emissora vem sendo coordenada pelo professor-doutor Antonio Carlos de Jesus, diretor do Projeto Televisão Universitária Unesp, cuja gestão vem sendo marcada pela falta de transparência desde o início do lançamento do projeto. Ele nega. “Todos os processos seguiram normas da instituição, inclusive de publicação oficial”, declarou.

Internamente, no câmpus de Bauru, trava-se uma batalha de bastidores para questionar a despesa, o que tem gerado todo tipo de especulação e até supostos favorecimentos em indicações.

(...)
Na última reunião do Conselho do Centro de Rádio e Televisão Universitária, a contratação pelo regime da CLT foi muito questionada, mas a Unesp garante que está havendo seleção por meio de prova escrita. Até agora não houve formalmente qualquer questionamento do concurso seletivo, embora se reclame muito da rapidez do processo e do grau de amizade entre alguns aprovados.

(...)
O custeio da emissora também é uma incógnita. A Unesp alega que a emissora será mantida com verbas de apoio cultural. A própria TV Cultura de São Paulo, com abrangência muito maior, com várias repetidoras no Estado, não consegue se manter financeiramente com o que arrecada de apoio cultural, o que é também motivo de discussão devido ao caráter educativo e não comercial da emissora.

Ao JC, a Unesp alega apenas que está em andamento, junto aos fornecedores da universidade, agências de publicidade e a própria TV Cultura que utiliza dessa estratégia, tratativas para subsidiar os seus gastos.

(...)
A Reitoria e o diretor do Projeto de Televisão Universitária da Unesp, Antonio Carlos de Jesus, confirmaram os gastos de R$ 10,5902 milhões, mas ambos negaram, no entanto, falta de transparência na implantação da emissora em Bauru.

(...)
O prédio da emissora foi adquirido pela Vunesp e está cedido para uso exclusivo da TV Unesp. Foi acertado um termo de comodato com a universidade. O custo da obra está em R$ 1,023 milhão (se incluir as adaptações são R$ 2,3 milhões).

A Reitoria informou que em 27 de abril passado o Ministério das Comunicações encaminhou o processo de concessão ao presidente Lula, a quem cabe autorizar o funcionamento experimental da TV Unesp, a ser homologada pela Câmara e Senado. A previsão é de que esse processo demore de 60 a 90 dias".

Este é uma reportagem do Jornal da Cidade de Bauru, sobre o gasto envolvendo dez milhões de reais e uma TV que deveria estar no ar e não está. Dinheiro de todos está envolvido nesse caso, portanto, deveria ser de conhecimento de todos, inclusive da grande mídia.

O que está neste blog são trechos de reportagem publicada hoje no Jornal da Cidade. Você pode ler a reportagem na íntegra por aqui.